sexta-feira, 25 de março de 2011

(2011/202) Bell Nunt(r)ita Khampriranon: "meu pai me bateu muito para eu deixar de ser transexual, mas eu consegui"



1. Bell Nuntrita - no facebook, sexo "masculino". Um símbolo da plasticidade humana. Eu penso que no dia em que a humanidade separou procriação de prazer, isto é, descolou a sexualidade de sua função reprodutiva, penso que, nesse "dia", a humanidade reinventou a sexualidade.

2. Sob certo aspecto, trata-se, a meu ver, de um flagrante evolutivo. Para que a procriação fosse garantida, o coito foi cada vez mais associado a prazer. Nos mamíferos e, principalmente, nos primatas. Bonobos fazem sexo, já, por outras razões que meramente fazer filhos. O Homo sapiens superdesenvolveu inclinações já presentes nos primatas superiores, e, como se sabe - a despeito de "Roma" - sexo hoje, mesmo no Cristianismo, tem outras funções para além da procriação. Os vitorianos e moralistas protestantes consomem toneladas de camisinhas, para horror de Ratzinger (que "não sabe" que católicos também...)...

3. Chegará o momento em que a prociração será considerada questão de Estado - por conta da superpopulação mundial. Mas isso não inibirá o sexo, porque sexo, hoje, não é mais sinônimo de procriação, nem procriação, necessiariamente, de sexo. O prazer, os jogos amorosos, rivalizam cada vez mais com a funcionalidade "meramente" orgânica do sexo. Há séculos, o sexo já se transformou, até, em religião! É poesia, é sacralidade, é prazer... Vejam bem: até da alma - mas, quem há de negar?, do corpo!

4. No século XX, os métodos contraceptivos potencializaram o papel do lúdico no sexo: sem medo de engravidar, mulheres podem dar-se ao prazer, sem preocupações financeiras - e sanitárias... Uma nova estrada evolutiva, uma rampa de aceleração, se abre. Uma verdadeira liberdade corporal.

5. Ora, eu penso que a questão de gênero deve ser trabalhada aí dentro: sexo, macho e fêmea, são elaborações orgânico-evolutivas, necessárias à perpetuação da espécie. Paralelamente à evolução do cérebro humano, a sexualidade evoluiu para o lúdico (e o religioso!) - aí, não há a limitação biológica do sexo. A noção de macho e fêmea permanecem como valores e dimensões funcionais da espécie, em sua funcionalidade biológica, mas a própria espécie abriu-se para jogos sexuais de diversão, de prazer, de jogo - de "perversão", até. Nesse nível, as injunções de sexo são superadas, quero crer, pelas de gênero - ainda que não duvidaria de que haja, também aí, injunções orgânicas. Não descarto a hipótese de que a emergência da homosexualidade, da transexualidade, responda, também, em muitos - a maioria dos? - casos, a questões orgânicas.

6. Não quero dizer que descarte as questões sociais na construção do gênero: acho mesmo que a educação tem um papel relevante nessa questão. Mas estamos falando de pessoas, de seres humanos - nesse caso, a questão não se reduz a isso ou àquilo - trata-se de uma realidade complexa, tanto biológica quanto social. Acho que estamos diante de fenômenos próprios da complexidade bio-social humana. E Bell Nuntrita é um extraordinário exemplo de como esses processos podem produzir belos espécimes - e isso, não nos esqueçamos, na frente das cortinas, porque, atrás delas, há um mundo inteiro de dor e horror: meu pai nunca me aceitou...


7. Para quem, como eu, gostou das músicas, depois de uma pesquisa no Oráculo, eis as versões originais das canções que Bell cantou - Calories Blah Blah, Yahk Roo - Tae Mai Yahk Taam (aposto que vai estourar, agora!) e Mild, Unloveable.



8. Abaixo, canções cantadas por Bell Nuntita:

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