quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

(2012/237) Sobre um comentário de Nelson Lellis


1. Aproveitando-se do post (2012/235) "A pele que há em mim" - com vocês, Márcia, direto das terras portuguesas, meu amigo Nelson Lellis deixou um comentário. Estou às voltas com a redação de vários artigos (ao mesmo tempo), e não deveria/poderia parar para responder. Mas é por demais "provocativo" o seu teor e, para quem foi campeão nacional de Ragnarok - primeira monja aura 99 do Brasil (Klarah) - durante o doutorado, acho que parar e responder não vai aumentar minha lista enorme de pecados. Paro, então, e respondo.

2. Eis o comentário de Nelson Lellis:
Osvaldo,
essa interferência tua com a poesia, a música no peroratio demonstra que ainda és humano, és daqui... (A Bel quem o diga!) kkk 
Mesmo que a proposta do blog seja falar de tantos assuntos, e sabendo que estás carregando o blog praticamente só, o equilíbrio é mantido. 
Já dizia um mago: "Bem-aventurados os equilibrados, porque irão mais longe". 
Sinceramente, não sei em qual estação você vai parar, ou pretende parar, ou tentarão pará-lo (provável?), ou se nem pensa nisso. 
Ao que vejo, sua estrutura continua de pé. Mas será que a "Modernidade" terá poder ainda de surpreendê-lo? Será que a arte o fará? A letra? O cérebro? 
Aos leitores: façam suas apostas. Eu, particularmente, acho que sempre. Por quê? Os detalhes estão aí e só alguns poucos conseguem enxergar beleza onde, para a maioria, jaz. 
Respeitosamente, 
Lellis

3. Um bom comentário. Cheio de possibilidades. Meu envolvimento com poesia e música, em Peroratio traduz meu envolvimento com poesia e música. Não, não sou "poeta" e nem sou "músico" - minha "alma" é que é poética. Não se trata de profissão - trata-se de pele. E não se trata, ainda, de poesia em sentido "piegas" - há poesias horríveis na Internet: hoje, qualquer um se acha poeta, e poeta é o que eu não sou. Trata-se, apenas, de perceber-se e reconhecer-se, sem disso se envergonhar, como feixe de sentimentos, de emoções. Trata de saber-se humano, sim... Há um pesquisador sobre a minha pele, mas uma "poesia" sob ela...


4. A relação entre Modernidade e Poesia não é contraditória. Não posso responder pelos poetas que maldizem a Modernidade nem pelos modernos que desdenham da poesia. Meu modo de lidar com a Modernidade é recuperar a "sanidade": o todo em que consiste a vida humana está separado em três câmaras que se intercomunicam, mas são epistemologicamente independentes: Heurística, Política e Estética.

5. Cada uma delas responde - deve (em sentido de competência) - por uma relação humana com o real. "O que é isso?" é da competência da Heurística. "Qual a beleza disso?" tem a ver com a Estética. E "qual a utilidade disso?" tem a ver com a política. Grosso modo.


6. Meu radicalismo moderno tem a ver, então, com o enfrentamento da pergunta pelo real: a crítica, nesse caso, é inexorável. Todavia, o sentido da vida e o seu melhor modo de ser, em relação aos outros, não é da competência da Heurística - é coisa, respectivamente, da Estética e da Política.

7. Se você olhar para a barra esquerda de Peroratio, encontrará lá as três áreas - Política(s), o copo de café, Ciência(s), a coruja, e Arte(s), a escultura. Separo as coisas. Enquanto investigador, sou - tento ser - rigorosamente heurístico, hipercrítico, inegociável. Mas, para o sentido da vida, é à Estética que recorro - não à Política (não são os pastores, os padres, os políticos a me dizer que sentido tem a vida!). À Política, eu recorro para compreender e praticar as relações com terceiros.

8. Assim, não tento contrabalançar a ausência de meus colegas blogueiros, pondo coisinhas aqui e ali. Isso sou eu, essa confluência de rigor rigoríssimo, em Heurística, e esse arroubo poético diante do não-sentido da vida, sem descuidar-me das "sombras" que rondam a vida da gente... Estética não pode ser fuga: daí, Política.

9. Onde quero chegar? Em lugar nenhum. Estou onde tenho de estar. Não há caminho - o caminho se faz caminhando. Poderia dizer que quero continuar caminhando, com Bel, com meus filhos - que, todavia, logo se irão para suas próprias jornadas. Construímo-nos dia a dia, e não sei aonde irei, se não sei quem serei amanhã. As projeções de hoje seriam válidas se fôssemos inalteráveis, e não somos.

10. Para mim, cada grão de conhecimento muda a minha estrutura. Mudo, à medida que aprendo e desaprendo. Cada pedaço de mim que arranco, me faz outro, e cada pedaço do que não era eu, e que agora faz parte de mim, me transforma. E, assim, caminho.

11. A médio prazo, escrever, publicar, por paixão e necessidade - há um ogro devorador de carne humana preso dentro de minha cabeça, e ele me faz escrever até que mate a sua fome.

12. Mas de tudo o que aprendi nesses últimos anos, talvez sete, seja a sanidade que é ter a consciência de que Heurística é Heurística, Estética, Estética, e Política, Política. Nenhuma delas dá conta, sozinha, da vida, mas perder a noção de que cada uma delas é algo diferente das outras é absolutamente pernicioso para o corpo, a alma e a canção...

 

     





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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