quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

(2013/068) O homem das cavernas e as cavernas em que ele ainda está


1. O homem saiu das cavernas há alguns milênios. Morou nelas, comeu, dormiu, amou, fez arte e fez religião lá. E saiu.

2. Saiu porque descobriu-se - inventou-se - Homo faber. Olhou para sua caverna e pensou consigo: posso fazer isso eu mesmo, e com uma vantagem: onde eu quiser...

3. E fez. Criou casas, cabanas, iglus. Passou a viver ele mesmo nas cavernas que ele criou.

4. Já era religioso, aí, mas, nesse dias, os deuses tornaram-se criadores...

5. Os deuses não eram criadores antes, poque os deuses só fazem coisas que os homens sabem fazer ou pensam ser possível. Uma vez que os homens não fabricavam coisas, casas, os deuses, da mesma forma, não o faziam...

6. Mas os homens aprenderam a fazer, e isso imediatamente projetou-se nos deuses...

7. Mudou, assim, esse aspecto da religião, mas ela mesma permaneceu a mesma...

8. Ela, a grande caverna dentro da qual os homens vivem desde que a inventaram...

9. Ah, sim, a religião é, de fato, uma grande construção humana, sua caverna mais primitiva. Eles a tomam como uma caverna que lá estava antes mesmo deles - mas não é verdade: eles, os homens, a criaram, e vivem nela, todavia, como se ela estivesse lá desde sempre e antes deles...

10. Assim como os homens inventaram suas casas, seus iglus, suas cabanas, mais cedo ou mais tarde, re-inventaremos essa grande caverna religião. Sairemos dela, como saímos da caverna antiga, e nos mudaremos para novas cavernas, também criadas por nós.

11. Talvez seja essa a última grande caverna, da qual ainda não saímos.

12. Talvez seja necessário o surgimento de ferreiros e pedreiros de um novo tipo...

13. Mas eu sinto que esse momento se aproxima...

14. Ainda será uma casa, uma caverna, onde moraremos - mas nós teremos tomado a consciência não iludível de que é nossa, porque nós a criamos para nós mesmos - e do jeito que nós desejamos.







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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