domingo, 20 de abril de 2014

(2014/290) Da ressurreição do Cristo


Se há um elemento do processo que foi a construção do Cristo que eu não entendo é a ressurreição - e, por favor, guarde suas expressões de adesão ao mito religioso para você mesmo: estou aqui pensando estritamente em termos históricos - e, em termos históricos, não há ressurreição, é mito. Agora, ainda em termos históricos, discípulas e/ou discípulos de Jesus construíram o mito da ressurreição do Cristo e o resto todos sabem...

Eu entendo quase todos os outros elementos desse processo.

Um Cristo divinizado - imperadores (Kyrios) divinizados.

Um Cristo nascido de virgem - heróis greco-romanos nascidos de virgens.

Um Cristo que sobe aos céus - imperadores romanos que sobem ao céu, heróis gregos que sobem aos céus.

Não há mais surpresas nesse campo - a ecologia da chegada da mensagem a territórios de cultura grego-romana encarregou-se de forçar a reconfiguração da mensagem original, de sorte que o Cristo não tem mais (quase?) nada a ver com Jesus.

Mas confesso que não sei se entendo o processo de construção da ressurreição.

É meu ponto cego...

Não passaram nem 30 anos até que ela já estivesse presente, como núcleo central da sua pregação, no maior dos seguidores do Cristo - Paulo. Foi ele o inventor do mito? Ou, como assevera, recebeu-o pronto?

Mas não é essa a questão que me encafifa - a questão é: de onde os primeiros discípulos tiraram a ideia? Que processo ecológico os obrigou a incluírem o tema da ressurreição à narrativa homilética e teológica do Cristo?

Teriam simplesmente copiado as narrativas de Dionísio?

Qual foi o gatilho? O que fez com que os discípulos - quais? - transferissem para sua narrativa o mito também greco-romano da ressurreição?

E mais - a aplicação do mito ao Cristo já o tratava, desde então, como um ser meio homem, meio deus? Ou estamos falando de tradições meramente judaicas e, por isso, tão antigas, no sentido de que ainda se estava operando no conjunto de tradições de um homem escolhido como messias, mas não ainda um semi-deus?







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Thiago Balduino Caldeira disse...

Boa pesquisa sobre isso então, professor. Que é algo que me intriga também e não tenho tantos instrumentos, conhecimentos das línguas originais, ou domínio da história completa. Fico curioso com o que isso vai dar. Talvez essa sua postagem responda àquela outra que resumo assim:

"preciso achar uma maneira de compartilhar aquilo que estou descobrindo, enquanto estou descobrindo, para ainda ter prazer de publicar, porque depois de descoberta a coisa perde a graça"

Compartilhar assim suas dúvidas e coisas que te deixam intrigados é uma maneira de compartilhar o prazer da descoberta na caminhada. Queria ter algo, algum livro para indicar sobre isso... mas não tenho, só fico aqui, curioso e ansioso.

Abraço!

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