sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

(2015/184) "Eu simplesmente não posso fazer isso"... Sobre a "pedagogia" com textos sagrados

Eu comungo quase que integralmente com o projeto político, se esse termo pode ser empregado nesse sentido, de biblistas e teólogos engajados, de esquerda, comprometidos com a transformação do mundo na direção inegociável de uma democracia de iguais, de livres e de fraternos. Gostaria de deixar isso claro: não me confundam com um ideólogo de muro, pior ainda, com um ideólogo conservador. Não: meu imaginário é de esquerda. Nisso, estou totalmente ao lado dos engajados da seara da teologia e das ciências das religiões.

O que eu não posso fazer, todavia, é trair meus instintos (atuais), minha consciência, é usar os textos sagrados para isso. Não, não posso. Não posso e não porque alguém não me permite: e quem não o permitiria, salvo pela força e baioneta, tortura ou ameaça à minha família? A autoridade religiosa de quem me impediria? Nenhuma. Só a violência. Eu não o posso fazer é porque minha consciência não me permite fazer. Minha consciência e ninguém mais.

Por isso, não posso me servir da abertura de textos para construir, por meio delas, mundos "transformados". Não posso - é o imperativo de minha consciência - levar uma pessoa a querer a transformação do mundo, alegando para ela que o texto sagrado o quer, que Deus o quer, que o diabo o queira. Para mim, com todo respeito a todos e a todas, para mim, se eu o faço, soa-me a mim como manipulação - ainda - da alma vulnerável, que acredita na divindade e santidade e sacralidade do texto humano, e, pior, que se põe sob meu pé, eu, guru da verdade, guia do certo. Não, não posso fazer...

Posso apenas ler os textos e revelar sua maldade (ou bondade), sua perversidade (ou compaixão), deixando sempre claro que, a despeito da maldade ou compaixão dos textos sagrados, eu não devo, nem eu nem ninguém, nenhuma satisfação a eles, porque o jogo que hoje jogamos não é mais de cristandades e catedrais, salvo engano, mas o jogo laico, republicano, democrático e de cidadania...

Não posso manter as pessoas hipnotizadas ao texto sagrado, ainda que seja fazendo-me crer - e a elas - que é uma hipnose para o bem. Não é ético, não é moral, não se justifica. Não, se você advoga uma pedagogia de emancipação.

É o que penso.

Com todo risco de estar errado.











OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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